Boa tarde, leitores!
Divulgação do 1° Capítulo –
não inteiro - Do primeiro livro da Saga Secreta et Legata. Começa com -
“Pesadelo”.
Uma ótima leitura...
Capítulo 1
Pesadelo
Acordei sentindo gotículas d’água batendo em meu rosto.
Senti que estava por cima de uma superfície arenosa e gélida, coberta por
folhas – então eu não poderia estar no meu quarto. Abri os olhos
vagarosamente. Senti a chuva fina, mas não podia vê-la. A lua emaranhada e
lenta acima da névoa tinha a companhia de algumas poucas estrelas. O vento frio
batia constantemente nas copas das árvores e os grandes troncos se alinhavam
como pilares. Tudo ficava escuro à medida que eu andava a procura de saída. A
garganta seca, e o suor frio escorrendo sobre minha testa; era como se eu
tivesse corrido quilômetros sem parar. Meu coração batia acelerado, como se
quisesse sair pela boca. E o pânico que eu estava sentindo naquele momento era
inenarrável.
Ouvi um farfalhar sobre a relva, atrás de mim. Olhei
rapidamente, mas isso não adiantou de nada. Tudo estava absolutamente escuro.
Era como se eu não tivesse visão, como se eu fosse cega.
Novamente ouvi um farfalhar, desta vez as folhas estavam
sendo esmagadas. Um ruído de passos. Meu coração ficou petrificado. Tentei me
mexer, mas foi inútil.
Os passos cada vez mais próximos...
- Q-quem está aí?
Minha voz saiu trêmula e arfante.
Ninguém respondeu. O então ruído cessou.
Senti os pelos dos meus braços eriçarem, porém os ouvidos
ainda estavam argutos. Decorrido um momento imensurável, o ruído voltara. Foi
como se a coisa, a dona do barulho, estivesse parada no mesmo local e não saíra
de lá. Como se durante todo o tempo estivesse me observando.
Não sabia como, mas, de repente tudo ficou claro ao meu
redor; e então eu vi uma garota de olhos avermelhados, com a face disforme,
faltando-lhe o lábio superior, deixando-lhe os dentes escurecidos amostra. Os
cabelos espessos e desgrenhados davam-lhe a aparência de bruxa, sobretudo por
suas vestes andrajosas. Porém ela não tinha cheiro algum.
A coisa mais assustafora que já vi em toda a minha vida estava bem
diante dos meus olhos...
A garota me olhava fixamente. Tentei me mexer, fazendo um
verdadeiro esforço. Meu coração disparava tão rápido que agora estava começando
a ofegar, enquanto meu cérebro congelava. Tentei gritar mais a voz não saía.
A garota aproximou-se de mim erguendo os braços com suas
mãos cadavéricas e nodosas em minha direção.
- Mell! Mell! Acorda!
Grandes olhos azuis infantil em um rosto triangular,
emoldurado por uma cascata de cabelos negros cacheados estava em cima de mim. E
braços finos e dourados me balançavam.
- Hã? Mãe...
Susana olhava-me atônita.
- Mell, você está encharcada de suor... E estava gritando
“Quem está aí?”, “O que você quer de mim” e “Afaste-se de mim!”. Estava tendo
um pesadelo? – perguntou ela preocupada.
- Eu... eu...
Levei a mão à testa, tentado me concentrar. Sentia uma
leve dor de cabeça.
- Pesadelo... de novo.
Havia pavor e irritação em minha voz.
- Era aquela garota de novo, não era? – conjecturou minha
mãe, Susana.
- É. Tive o mesmo pesadelo duas noites seguidas esta
semana. Só que desta vez ela queria... bem, ela queria me pegar.
- Se eu pudesse fazer alguma coisa por você, Mell...
Seu olhar era penoso. Ela olhou para nossas mãos
entrelaçadas, depois para mim novamente, analisando cada traço do meu rosto.
Era como se estivesse se perguntando “Como uma coisa dessas poderia
acontecer?”.
- Isso
é real – sussurrei.
Ela me
fitou, as sobrancelhas se unindo.
- Você
agora lê pensamentos também, é?
- Ah...
Não, mãe você me olha de um jeito... É como se perguntasse “Como uma coisa
dessas poderia acontecer?”.
- Eu
sou tão óbvia assim? – perguntou ela, incrédula.
- É. -
Dei um sorriso, e minha mãe retribuiu com outro ainda maior. Ela, então, deu-me
um abraço apertado.
- Adoro
vê-la sorrir, é o sorriso mais lindo do mundo!
Às
vezes ela se esquecia que falando isso me deixava mal. O sorriso que ela via
não era o mesmo que eu via.
Absorta
em minha tristeza, falei distraidamente.
- Pena
que não vejo...
Senti
um pingo de água cair no meu ombro esquerdo. Ela estava chorando
silenciosamente. Às vezes eu tinha a impressão de que era ela que via a
garota e tinha pesadelos à noite.
***
O dia
estava cinza, tétrico, e a brisa fria e úmida acusava uma forte chuva, aqui, no
interior do Rio de Janeiro, a vida parecia demasiadamente monótona. Uma preguiça constante
domava meu corpo; não havia nada para se fazer, e minha mãe ficava correndo
para todos os lados com o telefone na mão, um tanto insana para encontrar logo
uma casa em Copa Cabana. Ela, assim como eu, não agüentava mais morar neste
maldito sítio sem graça. E, além disso, ela estava bastante preocupada com o
seu restaurante, e estava ansiosa para começar tomar conta dele novamente. E eu
estava um tanto alegre demais por dentro, para me ver livre das árvores e
campos que eu já estava cansada de ver. Eu não me sentia rústica para viver
aqui, e tudo aqui me afligia, por que a maioria dos meus pesadelos acontecia
aqui, exatamente aqui. Mesmo assim, minha mãe com sua mania de
exceder meus estudos me persuadia a fazer esgrima e caça. Uma coisa chata que
eu considerava, até por que não havia necessidade de aprender tais coisas.
Senti
cada fibra de o meu corpo pedir espontaneamente que parasse. O suor pegajoso
escorregava rapidamente por minha tez e pingava no chão de linóleo da pista
negra de esgrima. Susana nem parecia estar cansada, me olhando de cima, enquanto
eu me levantava do chão com grande esforço.
-
Levante-se – ordenou ela, com tal severidade que cheguei a duvidar que não me
tivesse amor de mãe. – Vamos, ponha a máscara!
- Estou
cansada! – reclamei. – Quero uma pausa.
Minha
mestre-de-armas olhou-me de forma branda, enquanto eu me levantava com
dificuldade.
- Mell,
você precisa aprender a lidar com as dificuldades. Se sempre que você se sentir
cansada e parar, nunca saberá seu limite.
- Este
é meu limite, mãe – respondi amargurada.
Mas seu
olhar endureceu, e ela se colocou em posição.
-En
garde! – exclamou, posicionando a espada em frente ao corpo.
Olhei-a
incrédula, não estava acreditando que ela não me daria uma pausa.
- Mãe!
– grunhi, endireitando-me para mais um ataque.
-
Mell... – e ela pós a máscara novamente. – Pode, por favor, por a máscara
também?
Com
um suspiro profundamente longo e pesaroso, pus a máscara de proteção. Meu corpo
ainda não estava pronto para um novo combate, doía-me tudo, e o cabelo ruivo
comprido agora estava me sufocando, por dentro do blusão branco de esgrima.
- E
procure sua melhor postura – disse ela -, você já passou da fase do florete,
Mell, deveria estar bem mais ágil. Espada requer mais atenção ao corpo, você
sabe que eu posso muito bem derrubá-la com mais facilidade.
- Sei
disso... – entoei minha voz mais depreciativa.
- Que
bom que sabe, assim não vou precisar ficar te lembrando...
Parti
para cima dela – pegar o oponente desprevenido era uma das milhares de coisas
que Susana havia me ensinado. Ajudava, sabe... Se o oponente não fosse ela...
-
Aprende depressa, não é Mell... – ela disse quando girou a espada de forma a
quase me acertar na coxa esquerda. Mas me defendi, aparando seu golpe com minha
espada e a empurrando para trás com as ultimas cargas de força que ainda me
restava. De repente ela me lançou um contra-cote ainda mais intenso que o
primeiro vindo com uma força avassaladora para cima de mim.
- Ahhh!
Reprimi
seu golpe com outro similar ao dela. Dei dois passos para trás sentindo os
joelhos quase dobrarem. Os braços doerem insanamente. Neste instante ela
atacou-me novamente e a espada acertou-me na mão em que segurava a minha espada,
derrubando-a e curvando meu corpo por inteiro, Susana, aproveitando a deixa,
desferiu outro ataque, que por último acertou-me em minhas pernas cobertas pela
calça branca e derrubando-me outra vez no chão.
Lembrando que o texto é apenas um
resumo.